Um conceito mais amplo sobre sustentabilidade que ultrapassa as barreiras das iniciativas voltadas apenas à proteção do meio ambiente foi consenso entre os palestrantes do I Encontro de Sustentabilidade e Inovação do Setor de Seguros, promovido pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), na sexta-feira, 29 de julho, no Rio de Janeiro. Logo na abertura do evento, o presidente da Confederação, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, destacou o papel do mercado segurador como agente de movimento social e econômico do País.
“Sustentabilidade e inovação são temas que estão intrinsicamente vinculados à atividade do setor de seguros por meio da subscrição do risco, o estudo do risco a ser tomado, da gestão deste risco e da formação de garantias. A formação de garantias é um ponto que eu venho insistindo não apenas ao que tange suporte aos riscos assumidos, mas também por conta do seu papel institucional e de formação de investimentos para o País. Isto posiciona o mercado como protagonista da busca de um desenvolvimento sustentável”, pontuou Coriolano, enfatizando que o principal componente operacional das empresas de seguros é a visão de futuro. “Garantir riscos é permitir que a sociedade se proteja de eventos que podem comprometer a sua capacidade de sustentabilidade”, explicou.
Do ponto de vista macroeconômico, Coriolano ressaltou a dimensão do mercado segurador que tem como um dos seus princípios básicos evitar que recursos sejam desperdiçados. “Geralmente, a sustentabilidade vem sendo, ao longo do tempo, associada à preservação de recursos naturais, à questão de governança, entre outras questões adjacentes. Não estou dizendo que não sejam importantes. Mas a hora é de falar da atividade de seguro, falar de sustentabilidade do sistema do ponto de vista da política macroeconômica. Temos o dever e condições de nos colocar no centro desta política macroeconômica – sustentabilidade econômica. Hoje o mercado acumula mais de R$ 800 bilhões em termos de garantias dos riscos assumidos. Em breve, do jeito que o mercado avança e o país também, falaremos em trilhão de reais em garantias de riscos, uma importante fonte de financiamento tanto para o setor público como para o setor privado”, concluiu.
O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), José Carlos de Souza Abrahão, também participou da abertura do evento e, em linha com a fala de Coriolano, reiterou que a definição da sustentabilidade na saúde e no seguro não é apenas a sustentabilidade ambiental. “É a sustentabilidade assistencial, da busca do equilíbrio econômico e financeiro. A sociedade está cada dia mais empoderada, a cada dia nos cobra mais e tem um nível de consciência maior. Precisamos trazê-la para participar e comungar disto. E isto só vai acontecer por meio do diálogo. O consumidor é a razão da nossa existência”, afirmou. “Nós vivemos um momento social e político muito delicado e compete a todos nós ter tranquilidade e serenidade. A saúde depende fundamentalmente da construção de um diálogo franco, democrático e técnico. Precisamos trabalhar a gestão de risco, trabalhar a análise do impacto da legislação e trabalhar a previsibilidade. Nenhum segurador trabalha se não tiver seus olhos na previsibilidade. E esta é a missão do órgão regulador. Temos que prover segurança jurídica para diminuir uma situação que hoje tanto se fala, que é a judicialização da saúde”, observou.
Neste sentido, a presidente da Comissão de Sustentabilidade e Inovação da CNseg, Fátima Lima, reforçou a importância de abrir espaço para a discussão sobre sustentabilidade e inovação. “É preciso traduzir a sustentabilidade para o nosso ambiente de negócios. A sustentabilidade consiste em avaliar os impactos sociais, políticos, econômicos, ambientais e de governança no nosso modelo de negócios. Como é que o setor de seguros vem trabalhando esta temática? A sustentabilidade não é apenas abraçar árvore. A sustentabilidade é competitividade. É saber aplicar estas questões no seu portfólio de produtos e serviços”, avaliou, destacando que é preciso compreender os impactos das grandes tendências globais, como a mobilidade urbana, a longevidade e a saúde, para que se possa inovar dentro no nosso mercado. “Como tomador de riscos a gente precisa entender, se antecipar a estas questões e entender se as soluções de hoje em termos de serviços de seguros estão atendendo a estas questões”, sinalizou.
Em destaque, a programação do encontro também trouxe a palestra do economista, ex-presidente do IRB Brasil RE e presidente do Insper, Marcos Lisboa, que discorreu sobre o tema “Liderança em Sustentabilidade”. Durante a sua fala, Lisboa indagou: “Como garantir a sustentabilidade das contas de um país que envelhece?”, afirmando que este não é o único de desafio do setor de seguros no Brasil e que se faz urgente enfrentar um debate sobre a estabilidade do setor público, a necessária reforma da aposentadoria, o regime geral da previdência social e os limites de gastos públicos.
No painel “A jornada de sustentabilidade do mercado segurador colombiano”, a diretora de Inclusão Financeira e Sustentabilidade da Federação Colombiana de Seguradoras (Fasecolda), Alejandra Diaz, destacou que 700 milhões de pessoas, o equivalente a 9,6% da população mundial, viviam, em 2015, com menos de US$ 1,90 por dia. Alejandra mencionou grandes desafíos para o desenvolvimento sustentável, entre eles, as mudanças climáticas, a escassez de recursos, os crescimentos urbano e populacional e a segurança alimentar. Ela ainda explicou que a aplicação do desenvolvimento sustentável passa por mudanças na regulação e nas políticas públicas, pelas expectativas dos consumidores e pela alteração do ambiente de negócios.
Do ponto de vista do mercado segurador, Alejandra salientou como a tecnologia está mudando o ambiente em que o seguro opera e promovendo a massificação dos seguros por meio de meios remotos; a personalização de produtos baseada nas informações sobre clientes (BIGDATA); a cobrança de prêmios em função do verdadeiro perfil de risco do consumidor (Pay as you use); e a participação de novos players no mercado e em sua cadeia de valor, inclusive não-seguradoras.
A mesa-redonda intitulada “Caminhos para o futuro: sustentabilidade e inovação” reuniu representantes da SulAmérica, da Bradesco Seguros, do Grupo Segurador BB e ******, da Liberty Seguros e da Brasilprev Seguros e Previdência, que, ao lado do fundador da Report Sustentabilidade, Álvaro Almeida, discorreram sobre as iniciativas e ações aplicadas no âmbito de trabalho de suas companhias.
Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros
Durante o evento foi lançado o 1º Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros, elaborado de acordo com as diretrizes e indicadores Global Reporting Initiative (GRI). Este modelo favorece a organização do conteúdo e a comparabilidade dos indicadores do setor, com os de cada empresa integrante ou de outros setores da economia. Nele, além de uma visão geral, estão resumidos os mais importantes acontecimentos e destaques do ano de 2015 referentes à CNseg e às suas quatro federações (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap). A publicação destaca que 85% das seguradoras mantêm iniciativas ligadas à educação em seguros; 1.372 candidatos participaram do primeiro exame da Certificação Profissional da CNseg (CPC); 96 ações presenciais e onlines foram realizadas pelo setor de seguros durante a 2ª Semana Nacional de Educação Financeira, alcançando mais de 95 mil pessoas; e 32 apresentações da peça de teatro de educação em seguros foram realizadas, atingindo mais de cinco mil estudantes de 22 escolas e oito estados do Brasil.
Entre outras questões, a publicação aponta, do ponto de vista ambiental, que 67% das empresas associadas à FenaSaúde realizam a gestão de suas emissões de gases do efeito estufa (GEE) e mantêm iniciativas para mitigar suas emissões. Na FenSeg, o percentual é de 50%. Em 2015, mais de 2.200 toneladas de sucata automotiva passaram por logística reversa, em ações monitoradas pela FenSeg.
A análise social, que aborda temas como educação em seguros, relacionamento com clientes e órgãos reguladores, e a gestão de colaboradores, aponta que 77% das empresas mantêm algum tipo de engajamento com os seus públicos estratégicos. Além disso, 75% das associadas às federações integram em suas políticas de responsabilidade social as políticas públicas oficiais dos governos municipal, estadual e federal. E, ainda, 71% das empresas realizam pesquisas de opinião e/ou satisfação com clientes.
No que tange à governança corporativa e questões relacionadas à gestão da ética, das práticas de compliance e da conformidade a normais internas e externas, o material indica que 96% das associadas têm código de ética e/ou conduta e declarações de missão, visão e valores; 95% fazem o monitoramento e o tratamento de questões relacionadas à conduta ética; 90% das empresas consultadas usam um checklist regulatório no processo de desenvolvimento de produtos e serviços; 81% mantêm canais internos anônimos de denúncia sobre práticas de desvio de conduta, tais como assédio moral/sexual, corrupção etc.; 55% tiveram alguma interação com órgãos reguladores, acionistas e parceiros de negócios relativa a questões ASG.
A íntegra do Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros está disponível na seção ‘Publicações’ do portal da CNseg: www.cnseg.org.br
Escrito por Lana Esch