A crise econômica atingiu seu ápice neste ano, mas o setor de seguros vem crescendo menos desde 2013. No ano passado, o setor (excluindo saúde) cresceu 10%, patamar abaixo dos 17% registrados no período de 2010 a 2013, quando os planos VGBL aumentaram 21%. Para este ano, a previsão da agência Fitch Rating é que o setor de seguros cresça 8,5%, índice próximo ao projetado para a inflação. Recentemente, a agência rebaixou a nota de crédito do país, pela segunda vez em seis meses.
Para Esin Celasun, diretora de Instituições Financeiras e Seguros da Fitch, os números de desempenho do setor de seguros nos últimos anos derrubam a tese de que o mercado demorou a entrar a crise. “A desaceleração de crescimento começou em 2013 e continuou em 2014 e 2015”, diz. Entretanto, ela ressalta que é preciso analisar o desempenho dos segmentos, já que alguns se mostraram mais resilientes à crise, como é o caso dos planos VGBL e PGBL e também do ramo saúde.
“Nos últimos dois anos, os produtos VGBL e PGBL impulsionaram o crescimento do setor de seguros e continuarão a impulsionar. Já o seguro saúde, apesar da perda de beneficiários, permanece no topo da lista de prioridades da população”, diz. Apesar da resiliência, o ramo de pessoas não está blindado contra os efeitos da crise, principalmente se houver piora do cenário, com o prolongamento da recessão e dos problemas econômicos, como desemprego e inflação.
Os dados do primeiro trimestre do ano, divulgados pela Susep, confirmam que o VGBL contribuiu para melhorar o desempenho do setor no período, mas que também sofreu o impacto da crise. Nos últimos três meses, o VGBL cresceu 7,7%, com a captação de R$ 19,830 bilhões, contra os R$ 18,403 bilhões arrecadados de janeiro a março de 2015, período em que o produto cresceu 49,4%, em comparação com os três primeiros meses de 2014.
Retomada do crescimento
Em seu estudo “Panorama de Seguros no Brasil”, publicado recentemente, a Fitch observa que a tendência de alta da alavancagem operacional do setor (prêmios ganhos líquidos / patrimônio líquido) continuou em 2015, embora tenha variado significativamente entre as empresas. Para a agência, o acentuado aumento da alavancagem registrado desde 2010 não ameaça a solvência do setor, pois resulta basicamente do aumento das provisões técnicas para produtos de previdência, que não expõem as seguradoras a risco de investimento por não garantirem retornos mínimos. “A alavancagem não ameaça a solvência porque o VGBL e o PGBL são produtos de previdência, mas também são formadores de poupança”, explica Esin.
Outra agência de riscos, a Moody’s Investors Service, também aposta em crescimento menor para o seguro neste ano, mas com níveis de capitalização estáveis. De acordo com a agência, a rentabilidade do setor vai continuar sólida nos próximos anos, sustentada por taxas de juros altas, reforçando o resultado de investimentos. Segundo dados da Susep, o resultado financeiro das seguradoras cresceu 39,5% em 2015. Para a diretora da Fitch, Esin Celasun, o resultado financeiro da carteira de títulos se torna uma fonte muito relevante para as empresas, porque as taxas de juros são muito altas.
“Primeiramente, nesse momento de crise, de desaceleração, as aplicações no mercado financeiro funcionam como um hedge, uma proteção contra a crise. O movimento é cíclico: os prêmios caem, mas os resultados financeiros sobem. Isso na verdade é positivo para a rentabilidade do setor”, diz. Mas, Esin reconhece que essa prática pode se tornar um ponto fraco no longo prazo. “Quando voltarmos ao ambiente normal, com taxas de juros menores, poderá representar uma fraqueza. Então, naquele momento, as seguradoras terão de ajustar seus modelos de negócios para precificar melhor alguns seguros”, diz.
Por enquanto, a Fitch considera o cenário atual desafiador. Para o PIB, a projeção de crescimento é negativa (-3,8%). “Por causa da sua alta correlação com os indicadores macros, o seguro é afetado pelo cenário de incertezas”, diz Esin. Mas, por outro lado, se houver melhora do cenário econômico e político, ela acredita que o setor de seguros poderá retomar seu crescimento. “Diria que em dois ou três anos, o setor possa voltar aos índices de crescimento alcançados em 2011 e 2012”, diz.
Fonte/Autor por: CVG-SP/Márcia Alves