O seguro da Samarco referente à responsabilidade civil sobre o rompimento de barragens em Mariana, Minas Gerais, não será suficiente para pagar gastos com recuperação de áreas atingidas e multas, afirmou o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani.
O executivo, que participou de teleconferência com analistas nesta segunda-feira, explicou no entanto que a apólice contempla valor “expressivo” relacionado ao risco operacional, para recompor danos materiais às estruturas da empresa e com a interrupção de negócios da mineradora.
“Mas no que diz respeito a responsabilidade civil, o seguro da Samarco é bem inferior já aos primeiros valores que estão se discutindo de indenizações. Por exemplo, ele é inferior a própria multa que o Ibama já aplicou à companhia”, disse Siani, evitando informar valores sobre o tema.
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff responsabilizou a Samarco pelo desastre provocado pelo rompimento das duas barragens Minas Gerais e anunciou uma multa “preliminar” de 250 milhões de reais à companhia a ser aplicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O analista do Credit Suisse Ivano Westin afirmou em nota a clientes nesta segunda-feira que observou em notas explicativas da Samarco que a apólice do seguro cobre até 1,17 bilhão de dólares com questões operacionais.
Para Westin, os gestores da Vale abordaram bem as perguntas dos analistas, “mas o foco claro (e correto) está no lado humanitário em vez de operacional/financeiro”.
“Como estamos em um estágio inicial de investigação, algumas questões permanecem sem respostas; acreditamos que o impacto desta estratégia tem impacto parcial em ações da Vale.”
A meta de produção da Vale em 2015 foi mantida em 340 milhões de toneladas, frisou o analista. Entretanto, a produção prevista para 2016 deverá sofrer um impacto maior.
A Vale informou anteriormente que o rompimento das barragens danificou uma correia transportadora de suas minas Fábrica Nova e Timbopeba, o que trará um impacto na produção própria de 2016 de 9 milhões de toneladas de minério de ferro.
Além disso, a venda de minério de sua mina de Fazendão para a Samarco foi interrompida.
Segundo Siani, os impactos de 9 milhões de toneladas poderão ser parcialmente compensados com aumento de produção em outros locais.
As ações da mineradora brasileira aceleraram perdas durante a teleconferência. O papel preferencial fechou com queda preliminar de 2,12 por cento, enquanto o Índice Bovespa subiu 0,83 por cento.
VÍTIMAS E RESPONSABILIDADES
Mais de uma semana após o rompimento das barragens, a prefeitura de Mariana contabilizava, nesta segunda-feira, 15 pessoas desaparecidas com o rompimento das barragens, sendo 9 funcionários que trabalhavam no local e 6 moradores.
Até agora, foram confirmados 7 mortos pelo desastre. Outros quatro corpos foram encontrados na lama, mas a identificação não foi possível visualmente.
O executivo reiterou o compromisso da Vale de dar suporte às atividades da Samarco necessárias para que sejam mitigados todos os danos ambientais e sociais causados pelo rompimento das barragens que despejaram toneladas de lama, inundando localidades e poluindo o importante Rio Doce, que abastece muitas cidades em Minas Gerais e Espírito Santo.
O executivo frisou que além de “ser o certo a fazer”, a recuperação de danos ambientais e o suporte para a recuperação de comunidades serão necessários para que as mineradoras obtenham as aprovações das autoridades para que Samarco volte a operar na região do desastre.
“A Samarco tem condições de gerar um caixa através da venda de alguns serviços e da venda de energia, por exemplo, que seria aproximadamente equivalente aos seus custos fixos”, declarou.
Siani reiterou que a Vale e a BHP são acionistas e concorrentes da Samarco ao mesmo tempo. Dessa forma, destacou que o acordo de acionistas é claro ao afirmar a independência das decisões da Samarco em suas operações.
Fonte: Reuters Brasil – Por Marta Nogueira.