Trabalhar com o público das classes C e D é o core business de algumas operadoras de saúde, que encontraram grande oportunidade num nicho de mercado que nunca foi muito valorizado por outras atuantes no setor. Entretanto, o cenário econômico de um país como o Brasil sofreu diversas mudanças nestes 23 anos e, dentre as transformações ocorridas, a mais relevante foi a distribuição de renda entre a população, que mudou de mãos com a ampliação da formalização dos trabalhadores das classes C e D, potencializando um marcante encurtamento de distâncias sociais. Deu-se então uma significativa expansão da classe média, formada por indivíduos que anteriormente pertenciam à classe baixa e gerando a criação de uma nova classe social denominada “nova classe média” ou “classe emergente”.
Vivenciamos de perto essa mudança do perfil sócio-econômico do país, trabalhando incessantemente para nos adaptar aos novos anseios e expectativas da nova classe social, com hábitos e comportamentos diferenciados e preocupações inéditas, pela primeira vez, em relação à insatisfação com a qualidade da saúde pública, propiciando um crescimento do desejo de acesso aos planos de saúde privados.
A migração de milhões de brasileiros para a classe média trouxe um desafio para a saúde privada: atender o crescimento da demanda sem perder em qualidade de atendimento. Neste período, mais precisamente há 15 anos, foi instituída a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que acompanhou o crescimento do setor, com medidas para regulação, normatização, controle e fiscalização dos planos de saúde, obrigando-os a uma série de implementações e adaptações, para atender a normatização, criando planos diferenciados, com coberturas variadas, de forma que o consumidor tivesse um leque de opções que atendesse às suas necessidades.
Porém, a experiência mostra que nunca devemos nos colocar em posição de conforto, pois o mercado é inconstante e desafiador, provocando nossa criatividade e pró atividade de tempos em tempos. Na contrapartida,os protagonistas deste crescimento econômico até pouco tempo, a chamada “classe emergente”, tomaram empréstimos, compraram automóveis, televisores, equipamentos de informática e contrataram o desejado plano de saúde. Agora, com o peso do aumento do custo de vida em seu bolso, refazem as contas e cortam gastos, com a perspectiva de uma crise no mercado.
Atualmente, acreditamos que já está sendo feita a avaliação estatística sobre mais esta nova mudança de comportamento da chamada classe emergente, onde o consumidor precisa abrir mão de algumas conquistas alcançadas, mas não deseja abrir mãos do tão sonhado plano de saúde. A opção observada, então, tem sido a retirada voluntária dos titulares dos planos, mantendo os filhos e garantindo acesso à saúde para um público mais jovem; talvez esta seja a forma dos pais protegerem seus familiares e proporcionarem um serviço que eles não tiveram acesso na infância.
É provável que estejamos diante de mais uma mudança no cenário da saúde e cabe a nós enxergar qual é a mensagem desta nova situação que está diante de nossos olhos, vislumbrando ações que podem ser implementadas para continuarmos firmes e fortes neste mercado tão importante.