Dados divulgados nesta quinta-feira mostram que o mercado segurador permanece entre as atividades mais resilientes à crise econômica que varre o País. No acumulado dos últimos cinco anos encerrados em setembro, as provisões do setor somaram R$ 653,2 bilhões, alta de 95,8% no período; e seus ativos, R$ 852,3% bilhões, expansão de 75,1%, contra uma inflação acumulada de 30,3% no período.
Esta solidez do mercado assegurou desembolsos bilionários da indústria. Apenas a título de pagamento de indenizações, de benefícios ou resgates de previdência complementar e de capitalização (incluindo-se aí os prêmios dos seus títulos), a indústria devolveu R$ 82,1 bilhões para empresas e pessoas até setembro deste ano. Incluindo-se outros 89,8 bilhões de despesas médico-hospitalares e odontológicas, a soma paga pelo mercado supera R$ 171 bilhões.
O mercado segurador também tem posição destacada no ranking dos grandes contribuintes da Receita Federal. Até setembro, as empresas do setor pagaram R$ 11,1 bilhões em tributos, o equivalente a 60,8% do seu lucro líquido. Este montante faz o setor figurar em 5º lugar em arrecadação tributária, lembrou o presidente da CNseg, Jayme Garfinkel, na entrevista coletiva da qual participaram também os presidentes da FenSeg, Paulo Marraccini; da FenaSaúde, Marcio Coriolano (futuro presidente da CNseg); da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento; da FenaCap, Marco Barros, além da diretora-executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes.
No encontro, todos deixaram claro que o quadro econômico adverso, ao lado da crise política, atrapalha a trajetória de acelerada expansão do mercado dos últimos anos. Mesmo assim, considerando-se o cenário adverso, os números exibidos mostram a resistência do setor. O mercado, por exemplo, estará entre os poucos setores econômicos que vão apresentar uma taxa de crescimento real neste ano, quando a previsão de queda do PIB deverá superar 3,6%, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, e a inflação estimada, superar 10% pelo IPCA. “Os números não são muito brilhantes, mas permanecem positivos”, destacou Jayme Garkinfel, para quem o mercado consolidado (seguros gerais, previdência, capitalização e saúde suplementar) fechará o ano com crescimento nominal de receita de 11%- a inflação projetada no ano é de 10,61%.
No acumulado no ano até setembro, a taxa de crescimento nominal foi de 12,5%, atingindo R$ 265, 7 bilhões. A maior participação da receita cabe ao mercado de Saúde Suplementar, com R$ 106,3 bilhões (alta de 12,9%); coberturas Pessoais (vida e previdência), com R$ 91,5 bilhões (alta de 19,5%); Seguros Gerais, com R$ 52,2 bilhões (alta de 5,6%); e Capitalização, com R$ 15,7 bilhões (decréscimo de 2,1%). Desde 2011, a expansão do setor é de 70,4%.
Os números esperados em 2016 devem ser parecidos com os apresentados em 2015. Em ramos elementares, a CNseg projeta crescimento de 5,2%, repetindo a taxa deste ano; nos seguros Pessoais, 13% (ligeiramente abaixo dos 13,9% de 2015); em Capitalização, avanço de 4% (ante 1,2% de 2015); e em Saúde Suplementar, a estimativa é de crescimento de 11,4%, em desaceleração aos 13,2% de 2015. Consolidada, a expansão de 2016 deve alcançar 10,3%, mas a inflação menor esperada, de 6,8% do IPCA, permitirá um crescimento real mais efetivo.
O consenso é de que o reequilíbrio da economia e volta à normalidade no plano político são fundamentais para o mercado confirmar o potencial de crescimento do mercado nos próximos anos. Pelas estimativas, o mercado poderá abarcar, gradualmente, 188,6 milhões de pessoas sem previdência complementar; 70 milhões de pessoas ocupadas sem plano dental; 45 milhões da população ocupada sem plano de saúde; 51,9 milhões de veículos com mais de cinco anos de uso, por exemplo.
Parte dessas projeções dependerá de regulamentação da Susep. O seguro popular, que depende da regulamentação do uso de autopeças certificadas para o uso em veículos a partir de cinco anos, que hoje têm restrições do mercado, e o Universal Life, além do VGBL Saúde, podem ser contribuições importantes para a expansão do mercado. O advento do seguro popular amplia a demanda do mercado para os atuais 30% da frota circulante, calcula o presidente da FenSeg. No caso dos produtos de previdência, amplia-se o portfólio de produtos disponíveis aos clientes.
O presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano, explicou como a crise econômica afeta os negócios de Saúde Suplementar. A desaceleração neste setor é puxada mais pelas demissões nas áreas de óleo e gás e construção civil. Em contrapartida, as pequenas e médias empresas mantêm a demanda aquecida, ajudando o setor a manter sua taxa de crescimento robusta.
Na Capitalização, a paralisação da venda do seguro popular por uma das empresas do mercado, ao lado da greve dos bancos em setembro, afetou o desempenho do setor. Mas o crescimento da venda da modalidade tradicional indica que a crise não afeta tão duramente o mercado. Outra indicação positiva é a expansão das reservas de capitalização, uma demonstração de que as pessoas não estão efetuando saques, como ocorre na caderneta de poupança. Daí porque o presidente da FenaCap, Marco Barros, está confiante de que a taxa de expansão em 2016 voltará a ser mais efetiva. “A crise é um fator negativo, porque reduz empregos e rendas. Em contrapartida, seu principal benefício é induzir as pessoas a pouparem mais”, assinalou.
Na área de pessoas, o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento, confirma que poderá haver uma ligeira desaceleração nas contribuições, mas sua trajetória permanecerá positiva, sobretudo porque as pessoas, em momentos de crise, abrem mão do consumo e preferem guardar dinheiro.
No plano institucional, a diretor-executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes, disse que o mercado continuará apresentando contribuições e propostas para mitigar os efeitos da crise, lembrando das interlocuções da entidade com as áreas governamentais, como os ministérios da Fazenda, Justiça e Saúde. “A cada conversa com o governo temos apresentado as dificuldades, as fragilidades e as propostas para solucionar os problemas”, assegurou ela.