Para o programa “Fantástico”, da TV Globo, aquele que foi o maior hotel de selva do mundo, considerado até uma das maravilhas do planeta, hoje não passa de ruínas.
Cenário para filmes de Hollywood e receptivo até para reis e rainhas, milionários como Bill Gates e outras celebridades mundiais, hoje o hotel Ariaú Amazon Towers é um amontoado de construção em madeira, definhando com o tempo, assim como o seu criador, o empresário Ritta Bernardino (foto).
Acometido de um problema de saúde que o afastou dos negócios e do cenário local, Ritta, com mais de 80 anos, é alvo também de disputas judiciais pelos seus herdeiros. Ele hoje vive em “cárcere privado”, como mensagem de celular que teria enviado à imprensa no ano passado.
O Ariaú Towers, com pouco mais de 30 anos, em 2006 já era tratado como um negócio decadente pela revista IstoÉ Dinheiro e até mesmo por Ritta.
“Já cheguei a receber três mil turistas americanos por mês e fiz expansões no hotel para receber até cinco mil. Hoje estou recebendo pouco mais de 300 americanos”, disse o empresário à IstoÉ naquela época.
Ritta declarou que, só com os americanos, o hotel faturava US$ 3 milhões por mês.
Naquela época, o ministro do Turismo brasileiro já se queixava que a Amazônia e o Amazonas, detentores do maior patrimônio do país, não têm “produtos turísticos de padrão internacional”.
Pouco mudou em uma década, e fica pior com a falência do empreendimento de Ritta, que se orgulhava de apresentar o Ariáu como o cartão de visita da Amazônia.
Amigo do lendário Jacques Cousteau e da tripulação do “Calypso”, Ritta costumava atribuir ao navegador o conselho para a construção do hotel.
Até o final do ano passado, o hotel já tinha ido a leilão na Justiça várias vezes, sem que alguém o adquirisse. Só a BR Distribuidora cobra dívida de fornecimento de combustível de quase R$ 2 milhões.
O empresário, ou seus herdeiros, que tentam interditá-lo na Justiça, também têm compromissos trabalhistas a cumprir com os funcionários do Ariaú.
A notícia do “Fantástico” do estado de abandono do Ariaú não é novidade na região, mas mesmo assim despertou emoções e posts de amazonenses em redes sociais.
Os jornalistas Jefferson Coronel e Humberto Amorim emitiram comentaram no Facebook sobre a derrocada do hotel, que também é um fracasso para o turismo do Amazonas.
Confira os comentários abaixo, e veja também o vídeo da reportagem da TV Globo.
“Eu não me orgulho disso”, por Humberto Amorim
Hoje à noite, durante a transmissão do programa Fantástico para o Brasil, e o resto do mundo, todos que contribuíram e ainda contribuem com paixão para o engrandecimento do turismo receptivo no Amazonas por certo baterão no peito dizendo: eu não me orgulho disso. Não quero aqui fazer nenhum juízo de valor, quero sim, desolado, verbalizar que a falência do ARIAÚ AMAZON TOWERS HOTEL, um dos mundialmente mais famosos empreendimentos na história do turismo amazonense, afeta a cada um de nós, sem exceção, e deixa nua e crua a triste realidade do setor turístico que claudica há anos principalmente pela notória falta da sintonia entre o órgão governamental e o setor empresarial, por não falarem a mesma língua, enquanto isso, a galinha dos ovos de ouro que mora na atividade receptiva, enfraquece. Só não vê quem não quer ver. Hoje em dia o único trapézio da atividade turística está na temporada de cruzeiros que permanece graças ao empenho e desempenho de uma ou outra agência de viagens que, teimosas, se recusam a desistir. Felizmente. Você já visitou o Porto de Manaus ultimamente? Só é notícia quando o rio Negro está enchendo ou vazando… demais, quando os transatlânticos não estão atracados. Uma lástima.
Que a verdade seja dita. Meu amigo e empresário Rita Bernardino deu tudo de si, incondicionalmente, pelo sucesso do que chamava “A nona maravilha do mundo”, visitando alucinadamente um país atrás do outro no afã de promover o hotel. Uma vez me encontrei com ele em Budapeste e perguntei: “Rita, até na Hungria?”. Ele respondeu: “Meu amigo, o negócio é amar a todos, um sentirá”. Grande Rita!!! Infelizmente, o que veremos hoje à noite é mais uma prova de que, principalmente no setor do turismo amazonense, aqui é a terra do já teve. E tudo indica que continuará assim.
Jefferson Coronel
Fiz a primeira reportagem nacional em TV sobre o Ariaú Tower. Foram mais de sete minutos sobre turismo ecológico no #Fantástico, no dia 25/dez/1988, mesmo dia em que era enterrado o Chico Mendes, em Xapuri/AC.
Já naquela época pensei que era um lugar pra ser ir uma vez só, coisa pra atrair gringos com bom dinheiro.
Era interessante, sem dúvida, mas infelizmente o resultado de longo prazo não deu certo.
Essa matéria do Fantástico deste domingo mostra o quanto desperdiçamos oportunidades de grandes negócios na Amazônia. O turismo deveria ser o carro-chefe de uma economia da floresta.
Fonte: BNC