O papel do corretor no processo de seleção e aceitação de grandes riscos foi o tema da palestra que o presidente da Escola Nacional de Seguros, Robert Bittar, ministrou durante o XXVI Congresso Pan-americano de Produtores de Seguros da Confederação Pan-americana de Produtores de Seguros (Copaprose), entre 20 e 22 de abril, no Rio de Janeiro (RJ).
De acordo com o executivo, que também é vice-presidente da Fenacor, os grandes riscos ainda são operados por uma pequena parte das corretoras de seguros no Brasil. Para ele, o aumento da participação dessa carteira nos negócios de corretagem pode ser estimulado pelo investimento em competência técnica.
“Não basta ao profissional conhecer o produto que comercializa. Mais do que isso, ele precisa estar envolvido com toda a cadeia produtiva, entender com profundidade a operação do seu cliente, identificar os riscos diretos e correlatos inerentes a tal atividade”, aconselhou Bittar. O domínio desse conhecimento, segundo ele, ajudaria a reduzir a assimetria de informação. “Notadamente, nos grandes riscos, a qualidade das informações operacionais e de sistemas protecionais é fundamental não só para a aceitação do risco, como também para uma precificação justa”.
Dados mais confiáveis evitariam que tal risco fosse mal precificado ou declinado pela seguradora e pela resseguradora. “Como muitas vezes há poucos dados estatísticos e históricos, a subscrição de grandes riscos exige análise individualizada e construção de clausulado claro, que permita reduzir a subjetividade da análise da subscrição. Para atingir este objetivo, o corretor precisa interagir tecnicamente com toda a cadeia, com acompanhamento de inspeções e interação com áreas técnicas das seguradoras, bem como com brokers e resseguradores”.
Economia vai precisar de fôlego para voltar a crescer
Já o economista Claudio Contador, diretor do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), foi mediador em painel sobre possíveis cenários econômicos para a América Latina. Apesar da cautela recente do Federal Reserve em subir os juros, há de fato maior pressão para aumento das taxas nos Estados Unidos, afirmou o executivo.
Esse aumento é gerado pelo grande déficit em conta corrente, algo que também ocorre nos países da América Latina, o que deverá impactar o mercado de seguros. “Se por um lado os resultados da atividade de seguros talvez não sejam tão promissores devido ao desaquecimento da economia, por outro, a tendência de juros elevados deve favorecer o resultado financeiro das empresas”, explicou Contador.
Para o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, que participou do mesmo painel, a expectativa de menor elevação da taxa de juros americana, ao contrário do que era esperado no início do ano, favoreceu os países emergentes, que puderam atrair investimentos estrangeiros e minorar os efeitos da forte queda dos preços das commodities, das quais suas economias são dependentes.
Entretanto, a expectativa é de que o Brasil não se beneficie muito desse cenário. De acordo com o executivo, mesmo se o País for bem-sucedido em equacionar suas contas públicas, podem ser necessários vários anos para que sua renda per capita volte ao nível registrado em 2014.
“Para combater a desaceleração econômica mundial, o Brasil se excedeu nas políticas de estímulo e antecipação de consumo e agora é preciso pagar essa conta. Nós estamos pagando com um crescimento bem inferior aos demais países da América Latina e um risco-país superior”, afirmou Melo.
Segundo o economista, o grau de risco-país do Brasil, fixado pela agência de rating Standard & Poor’s, é atualmente BB. Entretanto, ela avalia que a dívida pública nacional tem grau maior de risco, equivalente a BB-, uma nota abaixo de BB. “Temos uma tarefa hercúlea pela frente, que é corrigir a política fiscal”, avaliou.
Organizado pela Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor), com apoio da Escola, o evento reuniu profissionais de 20 países da América Latina, Canadá, Portugal e Espanha. A palestra de abertura coube ao secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique Oliveira, e ao presidente da Fenacor, Armando Vergilio.
O encontro também contou com palestras de Roberto Westenberger, titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Pilar de Frutos, presidente da Federação Interamericana de Empresas de Seguros (Fides), e Marcio Coriolano, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), entre outros especialistas.
Autorregulação de corretores de seguros
O presidente da Escola, Robert Bittar, também participou do terceiro dia de debates da XVII Conferência sobre Regulação e Supervisão de Seguros na América Latina, promovida pela Associação de Supervisores de Seguro da América Latina (ASSAL), em parceria com a Susep, entre 18 e 21 de abril, no Rio de Janeiro.
Ao palestrar em painel sobre conduta de mercado, o executivo defendeu a criação do órgão autorregulador para corretores de seguros para auxiliar a Superintendência na supervisão preventiva da categoria. Segundo Bittar, o Brasil conta hoje com mais de 60.000 profissionais e mais de 30.000 empresas.
“A Susep não tem braços suficientes para desenvolver esse trabalho, o que a leva a agir mais na fiscalização punitiva. Entretanto, o modelo brasileiro de autorregulação não abre mão da participação do Estado, sendo subordinado à Susep, responsável pelas decisões finais”, explicou o presidente.
Fonte/Autor por: Escola Nacional de Seguros