Com a finalidade de auxiliar as empresas na avaliação de investimentos em mercados emergentes, a consultoria e corretora de seguros Aon em parceria com a Roubini Global Economics divulga a nova edição do estudo Mapa de Risco Político. A pesquisa, que avaliou 162 países em 2015, apontou pela primeira vez nos últimos três anos mais reduções de riscos políticos do que índices elevados, fator esse que deve encorajar cada vez mais os países emergentes a executarem reformas políticas e econômicas.
No entanto, o levantamento constatou que por conta da crise política e também o desempenho da economia, o Brasil se manteve com o risco considerado médio. “A atual situação tem aumentado os riscos em curto prazo, em particular os riscos não-políticos, porém, o país possui instituições robustas e grandes reservas de divisas, o que pode a médio prazo levar a uma certa recuperação”, considera Keith Martin, consultor de riscos políticos e investimentos no exterior da Aon Brasil.
Para o executivo, o Brasil está vivendo uma das recessões mais prolongadas de sua história, o que tem exercido uma considerável pressão sobre o país. “Os escândalos de corrupção feriram não só a imagem do governo, mas também afetaram a competitividade das empresas, principalmente no setor de construção pesada e infraestrutura, além de deixar o país mal preparado para enfrentar a baixa dos mercados das commodities”, acrescenta Martin. Porém, o consultor ressalta ainda que esse cenário abre oportunidades para as empresas estrangeiras, já que permite processos mais abertos e grandes possibilidades de fusões e aquisições com instituições brasileiras.
De acordo com Keith Martin, embora o cenário caminhe para uma retomada econômica, as Olimpíadas do Rio de Janeiro podem ser um divisor de águas. “De um lado existe a oportunidade do país em se vender para atrair importantes negócios, na expectativa de uma melhora no ambiente de investimentos a médio e longo prazo. De outro, há chances de um aumento no risco político com possibilidade de protestos, manifestações e até mesmo violência política”, afirma.
Além disso, o executivo esclarece que outros países da América Latina também estão vivendo um ano muito histórico, com desdobramentos que vão se estender ao longo dos próximos anos. “As eleições presidenciais na Argentina, as legislativas na Venezuela, a derrota do referendum pró-Morales na Bolívia e a crise política no Brasil mostram que há um grande desejo de mudança de rumo após mais de 12 anos de governos da esquerda, o que deve movimentar ainda mais a América Latina”, diz. Contudo, Keith Martin observa que as atuais reformas na Argentina oferecem ao Brasil tanto uma oportunidade como um desafio. “De um lado, ficará mais fácil exportar à Argentina. Do outro, o Brasil terá mais dificuldade na concorrência global de investimento estrangeiro direto (IED), já que comparando o Brasil e a Argentina o investidor pode ver mais potencial no país vizinho”, adverte.
Mesmo que em curto prazo resulte em um cenário de incertezas, e particularmente na Venezuela existir um risco elevado de violência entre os apoiadores e oponentes dos regimes de esquerda, o consultor afirma que a médio e longo prazo pode haver um ambiente mais favorável à iniciativa privada, mais segurança jurídica e regulamentar, e mais oportunidades de investimentos.
Avaliação Global
Além do panorama sul-americano, o estudo Mapa de Risco Político revelou que, pela primeira vez nos últimos três anos, alguns países tiveram reduções do risco político, como China, Irã, Paquistão, Etiópia, Sérvia, Jamaica, Nepal e Haiti. Dando destaque a China e ao Irã, Keith Martin comenta que reformas anticorrupção e suspensão de sanções políticas e econômicas auxiliaram no upgrade desses países, mas ainda existem ressalvas. “O reequilíbrio e a desaceleração da segunda maior economia do mundo, provavelmente, resultarão em desafios para os vizinhos e principais parceiros comerciais da China. Entretanto, a reentrada do Irã nos mercados globais tende a aumentar o fornecimento de petróleo à medida que for ganhando acesso aos mercados estrangeiros, oferecendo preços mais ajustados, inclusive para a Europa”, esclarece.
Martin explica ainda que no topo da lista dos riscos políticos que os investidores de mercados emergentes estão enfrentando neste ano está o impacto do preço do petróleo, que tem afetado países já fragilizados dependentes do valor do barril, como o Iraque, Líbia, Rússia e Venezuela. “Esse fator está elevando os riscos de transferência cambial, exercendo pressão sobre as empresas e indivíduos que procuram moeda estrangeira, e por consequência, desestimulando os investidores”, aponta.
Segundo o consultor, as perspectivas para muitas economias de mercados emergentes dependerá das implementações de reformas para atrair mais investimentos. “Quando se tem um comércio global mais fraco e com baixo crescimento econômico, a competição por capital aumenta”, complementa.
Por fim, o Mapa de Risco Político mostrou que apenas quatro países tiveram seus índices elevados: Filipinas, Cabo Verde, Micronésia e Suriname.
Sobre o Mapa de Risco Político
A Aon mensura os riscos políticos de 162 países e territórios para avaliar os riscos associados à transferência cambial, inadimplência soberana, interferência politica, interrupção da cadeia de abastecimento, regimes jurídicos e regulatórios, violência política, facilidade de fazer negócios, vulnerabilidade do setor bancário, e a capacidade de o governo proporcionar estimulo fiscal. Para cada categoria de risco específica, assim como para a classificação geral, cada um dos países recebe a seguinte classificação: Baixo, Médio-Baixo, Médio, Médio-Alto, Alto ou Muito Alto.
A classificação de cada país reflete uma combinação de análises realizadas pela Aon e Roubini Global Economics. Os países membros da União Europeia e da Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento não foram classificados no mapa.
Fonte/Autor por: REVISTA COBERTURA MERCADO DE SEGUROS