A crise política causada pela tentativa de impeachment capitaneada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está criando uma situação de apreensão nos analistas econômicos. Diante da incerteza acerca dos rumos do processo político, aumentadas ontem, 7 de dezembro, pela adesão do vice-presidente Michel Temer ao processo iniciado por Cunha, os investidores têm reagido com cautela e se mantido líquidos (em investimentos de curto prazo), em decorrência da impossibilidade de se projetar o futuro da economia brasileira. A sensação que parece dominar parte dos analistas é a de que, uma vez superada a tentativa de impeachment, o governo terá mais força para se reorganizar politicamente e apresentar uma nova agenda ao país, tendo ainda como bônus a provável cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha. Apesar da volatilidade recente, aparentemente o mercado financeiro tem reagido com modesto otimismo à deflagração do processo (há muito esperado, uma vez que Cunha se tornou oposicionista desde o momento de sua eleição), já que ele pode representar a superação da crise política vista no país desde o início do ano.
Comentário: Os dados econômicos disponíveis não indicam nenhuma grande mudança da situação que vimos em 2015: inflação alta, desemprego crescendo e baixo crescimento econômico. O único indicador que apresentou melhoria em 2015 foi o do setor externo, com a retomada do superávit comercial e a redução do déficit em transações correntes. Esta situação negativa só se alterará em 2016 caso o governo consiga vencer o embate político com Eduardo Cunha e seus aliados, estabilizando a situação política no Congresso Nacional. Uma vez superada a discussão do golpe o governo será capaz de implementar uma nova agenda de crescimento para o país, fato que já vinha sendo discutido dentro do Ministério da Fazenda e do Planejamento, mas que ficou paralisado dado o agravamento da crise política.
A recente adesão ao golpe do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), através da divulgação para a imprensa de uma carta destinada em caráter supostamente “privado” à Presidenta, demonstra que a disputa política não tem relação com eventuais crimes cometidos por Dilma, mas sim com uma disputa pelo poder dentro do próprio PMDB. A luta da dupla Cunha/Temer é pelo controle do partido e dos cargos no governo, não tendo nenhuma preocupação com um verdadeiro projeto para o país. O poder conquistado seria utilizado como forma de pressionar a bancada de deputados para apoiar o golpe e proteger a dupla do avanço das investigações da Lava Jato em um eventual novo governo. Os partidos de oposição se tornaram coadjuvantes do quadro, sendo meros aliados de Cunha e Temer em seu projeto de poder, com figuras como José Serra sonhando em assumir cargos em um eventual novo governo. O discurso de “pacificação” do país adotado por Temer encontra seu limite no fato evidente de que boa parte da população e da sociedade civil organizada resiste duramente ao golpe e deplora a ideia de um governo Temer, que seria incapaz de governar sob a constante suspeita de corrupção e com a forte resistência dos movimentos sociais. A insistência neste caminho golpista apenas revela o descaso de algumas lideranças políticas com o futuro do país, preocupadas apenas com suas mesquinhas ambições políticas de poder.