Como já tem muita gente se ocupando de como devemos agir e das decisões que devemos tomar durante esse período de pausa imposta pelo Coronavírus, decidi ocupar grande parte do meu tempo com perspectivas, cenários e ações que acredito que teremos que pensar e fazer quando sairmos dessa pandemia. Porque simplesmente iremos sair dessa. Isso é tão certo quanto a morte e os impostos, como dizem os gringos. As únicas perguntas, que para mim são secundárias quando olhamos para uma vida inteira, são quando e como iremos sair. Mas que vamos sair, vamos, pode acreditar.
O mundo voltará a girar, talvez mais lento, com escassez de empregos, sobra de produtos, crise de oferta… Até aí mais do mesmo de todo período de recuperação econômica. Porém, após dias de estudos e reflexões, creio que as mudanças relevantes estarão em outros aspectos. Duas são bem previsíveis. Uma é pessoal e a outra profissional.
Do ponto vista pessoal, acredito que esse vírus trará a maior das reflexões dos últimos 100 anos. É óbvio que todos prefeririam não passar por isso e uma única vida é um custo inaceitável para qualquer aprendizado. Mas esse enfrentamento, inevitável, vai nos transformar. Seremos melhores seres humanos, sem nenhuma dúvida. Melhores na dor, melhores no amor, melhores com o próximo e melhores com o planeta. A história irá mostrar essa grande mudança que a pandemia nos trouxe. Eu realmente acredito nisso.
No lado profissional, uma grande mudança que a “pausa” imposta causará será nas relações com o trabalho. Finalmente o mundo descobriu que trabalho é o que você faz e não para onde você vai todos os dias. Se eu fosse um grande proprietário de escritórios comerciais, estaria com um pouco de insônia nesse momento.
Mas estas duas são visíveis. Minha preocupação é com mudanças que não estamos enxergando, prevendo e nos preparando.
Por exemplo, puxando a sardinha para minha especialidade, creio que as relações comerciais entre a indústria e o varejo irão mudar radicalmente.
Comprar e vender jamais será uma atividade “intuitiva” como foi até aqui. Inevitavelmente terá que haver mais ciência, mais cuidado, mais precisão, porque haverá menos estoques, menos sobras, menos desperdício de mercadorias, menos tempo e especialmente, pela primeira vez, menos lojas. Pela primeira vez em dezenas de anos, teremos o impacto da redução no número de lojas físicas e virtuais em função da pandemia. O varejo que sobreviver será absurdamente mais criterioso na hora de comprar, pois essa foi boa parte da razão da sobrevivência dele.
Mais do que nunca, a tão famigerada, falada, mas pouco executada “transformação digital” deverá ser implementada rapidamente nas áreas comerciais, sob pena de as empresas serem literalmente atropeladas em um curto espaço de tempo.
Vender será precioso; exigirá muito mais da capacidade dos fabricantes e varejistas de entender os consumidores, em vez de simplesmente disponibilizar e promover produtos.
Vender demandará muito mais técnica e tecnologia.
Vender para muitos clientes será sinônimo de sobrevivência.
Vender o portfólio certo, na quantidade certa, com os preços ótimos e com o crédito justo será sinônimo de obrigação.
Agora fazer tudo isso com precisão em poucos minutos através da tecnologia será sinônimo de competitividade.
Repense seu retorno, repense como sua empresa vende hoje. E prepare-se para uma nova e diferente relação comercial com seus clientes.
Marcos Póvoa é CEO da MC1
Escrito ou enviado por Ademir Morata